A Tecnologia Muda o Emprego no Campo
O rápido processo de implementação de novas tecnologias na agricultura tem alterado o perfil do emprego ligado ao agronegócio brasileiro. O estabelecimento de algumas tecnologias resultou na diminuição dos postos de trabalho no campo, ou no deslocamento destes para outras atividades. A intensa velocidade com que esse processo vem ocorrendo não permitiu uma adequada reinserção do trabalhador desempregado nas novas funções geradas, devido à qualificação exigida. Entretanto, outras tecnologias, que agregam valor aos produtos do campo ou promovem um aumento na produção sem substituírem o trabalho humano, podem aumentar o número de empregos ao estimular o crescimento, como ocorre na fruticultura, horticultura e pecuária.
Walter Belik, professor do Núcleo de Economia Agrícola da Unicamp, defende que a decisão de implementar uma nova tecnologia no campo não deve ser unilateral, apenas do capitalista que aplica investimentos no campo, mas uma decisão que respeite os interesses dos trabalhadores envolvidos, levando em conta as condições econômicas, sociais e fiscais. "Estas mudanças devem ser feitas em um processo mais transparente do que o atual e discutidas entre proprietários, governo municipal, sindicatos e organizações sociais. Porém, isso não é freqüente no Brasil onde, em geral, as decisões sobre o uso de tecnologias são individuais, mas não deveriam ser assim", avalia o economista.
Existem poucos estudos que avaliam o impacto das novas tecnologias no emprego agrícola, sobretudo que sejam anteriores à sua implementação - diferente da questão ambiental e dos riscos para a saúde humana, priorizados na legislação e nas discussões para a liberação de certas tecnologias.
A mecanização da colheita do café, soja, algodão e cana-de-açúcar, resultou em um forte impacto negativo sobre o emprego dos chamados trabalhadores volantes, os "bóias-fria". Guilherme Francisco Waterloo Radomsky, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lembra que, no Rio Grande do Sul, um estado que é grande produtor de soja pelos agricultores familiares, as pessoas ocupadas nas culturas de soja passaram de 308 mil em 1992 para 181 mil em 1999, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE. A cultura de fumo também perdeu, apenas no Rio Grande do Sul, cerca de 40 mil postos de trabalho no mesmo período
Recentemente, a introdução de variedades geneticamente modificadas, que dispensam tratos culturais - feitos pelo homem - , também tirou postos de serviço o campo. "A soja modificada geneticamente pela Monsanto para resistir ao herbicida glifosato dispensa atividades como, por exemplo, a retirada de ervas daninhas, ou aplicação de outros herbicidas, consistindo em uma inovação repulsora de trabalho", exemplifica o professor Amílcar Baiardi, da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia.
Os pesquisadores advertem para os perigos de uma análise superficial da relação entre a tecnologia e diminuição do emprego no campo. Para Baiardi, no setor da cana, por exemplo, essa relação não é clara. Segundo o pesquisador, as inovações que surgiram na cultura de cana, nas técnicas de irrigação, no uso da vinhaça para a fertilização e em outras atividades resultantes de inovações tecnológicas, de certa forma, compensaram as perdas de empregos resultantes das máquinas. "Quando um setor é versátil, dinâmico, ele incorpora inovações que tiram postos de trabalho, mas outras tecnologias são incorporadas e aumentam a quantidade de produto por área. De algum modo ocorre uma compensação", diz.
Belik, da Unicamp, ressalta que "antes se pensava que a mecanização deveria ser combatida, por que tirava emprego. Porém, no caso da cana, o emprego era muito ruim do ponto de vista social, devido às condições precárias de trabalho". Os sindicatos negociaram uma transição para o processo de implementação da mecanização e, embora tenha havido perda de postos de trabalho, conseguiram gerar outros empregos com todos os direitos trabalhistas e de caráter definitivo.